Hoje completam-se 66 anos de um fim trágico de uma carreira política que
transformou a vida do Brasil em essencialmente agrário para uma nação
industrializada, além de ser o primeiro governo a ter um olhar para as
classes pobres, que eram ignorados pelos governos anteriores. No dia 24
de agosto de 1954, Getúlio Vargas tirava sua própria vida com um tiro no
coração, mediante a uma grave crise política.
Nascido em São Borja (RS) a 19 de abril de 1882, sendo um dos últimos
presidentes a nascer durante o Império, Vargas tinha apenas 7 anos
quando foi proclamada a República. Em 1930, chegou ao poder derrubando a
República Velha, por meio de uma revolução. O que acontece é que
naquele ano o então presidente Washington Luís, de quem Vargas já tinha
sido ministro da Fazenda, escolheu para candidato à presidente o
paulista Júlio Prestes. Tal decisão ia de encontro à "Política do Café
com Leite", onde deveriam se revezar paulistas e mineiros, mas
Washington, sendo paulista (de adoção, pois era carioca de nascimento),
escolheu outro paulista, o que desagradou os mineiros.
Getúlio tinha como vice o paraibano João Pessoa. Júlio Prestes também
tinha como vice um nordestino, o baiano Vital Soares. As urnas foram
abertas e Prestes venceu. No entanto, a oposição não aceitou o
resultado, alegando fraude eleitoral. Em julho de 1930, João Pessoa foi
assassinado em Recife, o que é tido como um estopim para a revolução. 24
dias antes de terminar seu mandato, o presidente Washington Luís e o
seu vice, Fernando de Melo Viana, foram depostos e substituídos por uma
junta militar, composta pelo General Augusto Tasso Fragoso, General Mena
Barreto e o Contra-Almirante Isaías de Noronha, que entregaram o poder a
Vargas no dia 03 de novembro de 1930.
Inicialmente, Vargas iniciou um governo provisório, anulando a
Constituição de 1891. Após derrotar a Revolução Constitucionalista,
Vargas convocou a Constituinte que elaborou a Constituição em 1934, que
se destacou com leis trabalhistas e o direito de voto às mulheres, algo
inédito na história do País. Vargas foi eleito presidente nessa ocasião,
e deveria governar até 1938. Entretanto, ainda em 1937, Getúlio Vargas
desejava permanecer no poder, e foi divulgado um suposto plano comunista
chamado "Plano Cohen", para tomar o poder. O plano, na realidade, era
uma farsa, servindo apenas de pretexto para o Estado Novo, que se
iniciaria a partir de 1937, com uma nova Constituição, desta vez,
imposta.
Em seguida, Vargas, com sua ditadura, passaria a perseguir fortemente os
opositores e nomear governadores, e estes nomeavam os prefeitos. Havia
ainda nessa ocasião, um forte comércio com a Alemanha, e Vargas passou a
flertar com o fascismo. Nesse contexto, alguns defendem a tese de que
Getúlio Vargas seria fascista, pois ele mantinha amizade e
correspondência com os ditadores Adolf Hitler, da Alemanha, e Benito
Mussolini, da Itália. Os que, entretanto, discordam, dizem que Vargas
foi apenas um ditador populista, que promoveu uma ditadura pessoal, mas
sem se identificar com alguma ideologia. Eles mostram como exemplo que
quem pretendia instalar no Brasil um regime fascista era o escritor
Plínio Salgado, da Ação Integralista Brasileira, a quem Vargas
perseguiu, assim como também perseguiu os comunistas.
Apesar da proximidade com Hitler e Mussolini, a Segunda Guerra Mundial
acabaria separando eles do Getúlio, que preferiria se manter neutro no
conflito. Mas a pressão dos americanos e o afundamento de navios
brasileiros por alemães levou o Brasil a entrar na guerra, colaborando
para a vitória na Itália. A vitória brasileira na guerra, ironicamente,
representou a derrota de Vargas, pois a vitória consolidada era dos
regimes democráticos, o que levou Getúlio a perder força. Deposto em
1945, Vargas retornaria ao poder em 1950, dessa vez pelo voto direto.
Eleito presidente, foi empossado em 1951, e deveria governar até 1956.
Em seu segundo governo, destaca-se a fundação da Petrobrás. Mas as
pressões americanas e da oposição contra seu governo eram enormes.
Vargas não detinha dessa vez a mesma força política e vitalidade que
tinha quando governou o Brasil pela primeira vez.
Em agosto de 1954, seu principal opositor, Carlos Lacerda, sofreu um
atentado, sendo que quem viria a falecer era o Major Vaz. Esse atentado
contribuiu para aumentar as pressões, pois descobriu-se que Gregório
Fortunato, chefe da Guarda Presidencial, teria mandado matar o
jornalista. As pressões dos militares aumentaram, e no dia 24 de agosto,
Getúlio Vargas pôs fim à própria vida com um tiro no coração. O
vice-presidente João Café Filho assumiu a presidência.
Mesmo depois de morto, Vargas se mostrou ser uma força política. Tanto
que nas eleições de 1955, o candidato do grupo varguista, Juscelino
Kubitschek, foi o vitorioso nas eleições presidenciais, tendo como vice
João Goulart, que teve mais votos que Juscelino. Hoje, a herança
política é reivindicada por dois partidos atuais: o PDT e o PTB. O PTB
foi o partido de Vargas, extinto durante a ditadura militar e revivido a
partir da década de 80, mas adotando tendências mais direitistas. O PDT
foi fundado justamente nesse cenário de dissidência com o PTB. Getúlio
foi o presidente que passou mais tempo no poder na História do Brasil:
juntando seus dois mandatos, foram 18 anos de governo, 10 anos a mais
que os segundos colocados Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula
da Silva, ambos com 8 anos cada.
Recentemente, em 2014, quando se completou 60 anos de sua morte, foi
gravado um filme sobre seus últimos dias, chamado "Getúlio", que tinha
Tony Ramos no papel do estadista, que "saiu da vida para entrar na
história", como dizia em sua carta-testamento
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